Os primeiros passos para um sorriso saudável
Os cuidados com a saúde bucal da criança começam cedo. Enquanto se desenvolve no útero, ela depende da alimentação e dos bons hábitos maternos. Depois do nascimento, precisa de atenção especial sobre a formação e a erupção dos dentes. O que pouca gente sabe é que há muitos fatores que podem contribuir para melhorar ou piorar o desenvolvimento bucal do bebê. Conheça alguns deles e saiba como evitar que seu filho tenha problemas dentários no futuro.
Cuidados na gravidez
A formação dos dentes começa muito antes do nascimento da criança. Eles começam a se desenvolver na sexta semana de gestação. Ao nascimento, já estão presentes nos maxilares as coroas dos dentes de leite, ainda incompletas, e o início do primeiro molar permanente. Neste processo todo, a saúde e a alimentação da mãe tem grande importância. Quanto mais rica, variada e saudável for a sua dieta, melhor para a saúde do bebê e, conseqüentemente, a dos dentes que ele vai ter.
Ainda assim, outros cuidados precisam ser tomados. Principalmente, em relação à saúde bucal da mãe. Assim como fornece nutrientes e anticorpos ao bebê durante a amamentação, ela também pode transmitir vírus e bactérias – entre elas, as que causam a cárie. “A cárie é uma doença infecto-contagiosa. Desse modo, a mãe é um foco muito próximo do bebê de transmissão da bactéria causadora da cárie. Por isso, é importante que a mãe faça uma completa revisão odontológica para estar livre da cárie quando o bebê nascer”, orienta a odontopediatra Ana Lúcia Locatelli Gorin.
O risco de transmissão da cárie aumenta, principalmente se a mãe ou a babá têm o hábito de assoprar ou provar a comida do bebê na mesma colher, já que a bactéria está presente na saliva. “É claro que os beijinhos são inevitáveis, mas não compartilhe os talheres com a criança”, salienta a Dra. Ana Lúcia Locatelli Gorin.
A importância da amamentação
O seio da mãe não é apenas fonte de alimento para a criança. Ele também ajuda no desenvolvimento dos dentes, no fortalecimento dos músculos faciais e do bom posicionamento da mandíbula. Tudo isso graças aos movimentos e à força que o bebê faz para sugar o leite. Quando nasce, o bebê tem mandíbula pequena e voltada para trás. Na hora de mamar, ele precisa posicionar a boca e língua de uma forma que o ajude a “puxar” o leite. Com esse esforço, gradativamente, a mandíbula vai para o lugar correto. Mamando durante pelo menos seis meses, o bebê tem grandes chances que a mastigação, a mordedura e a deglutição dos alimentos sejam perfeitas. “É através da amamentação, com os movimentos mandibulares de vai-e-vem, que o crescimento ósseo é estimulado. Isso faz com que a mandíbula alcance seu tamanho ideal. A amamentação prepara, ainda, a musculatura para a mastigação ao promover a estimulação dos músculos faciais. Vale lembrar que os músculos estimulados serão utilizados não só na mastigação, mas também no ato da fala, ressalta a fonoaudióloga Caroline Atkins.
Diferente do que ocorre na amamentação, o uso da mamadeira pode prejudicar o desenvolvimento de uma série de funções orais da criança. “A criança que mama na mamadeira não precisa exercer muita pressão para sugar, mesmo quando o bico é ortodôntico. Por isso, pode mamar com a boca semi-aberta, diminuindo a força da musculatura labial, induzindo a respiração pela boca”, salienta a Dra. Caroline. Até mesmo o tamanho do furo do bico tem importância. Se for muito grande, a criança não precisará fazer esforço para sugar o líquido. Assim, não desenvolve bem a mandíbula nem os músculos faciais. Sem o exercício da sucção, a criança acaba tendo o desenvolvimento das estruturas orofaciais prejudicado.
Chupando dedo ou chupeta
É normal o bebê desejar sugar. Faz parte do seu desenvolvimento. Porém, desde pequenas, algumas crianças são acostumadas a usar chupeta para dormir ou se acalmar. O que os pais costumam ignorar é que este hábito, assim como o de chupar constantemente o dedo, pode causar sérios problemas ortodônticos: mordida cruzada, estreitamento ou abertura excessiva da arcada dentária, posicionamento dos incisivos superiores para frente, alterações no formato do palato (céu da boca).
Por terem formato diferente do seio materno, tanto o dedo quanto a chupeta exigem que o bebê sugue de maneira diferente, o que faz com que o desenvolvimento da musculatura e dos ossos do rosto fique comprometido. Isso tem conseqüências sobre a fala, a mastigação e a deglutição. E, se esses hábitos durarem muito tempo, podem causar danos ortodônticos aos dentes permanentes. Por isso, o ideal é fazer a criança largar a chupeta até os dois anos de idade. De acordo com a fonoaudióloga Caroline Atkins, o hábito de sugar o dedo é mais maléfico do que a chupeta. “É mais difícil controlar a freqüência e, por conseguinte, a retirada do hábito”, comenta. Para ir diminuindo a freqüência do uso da chupeta, os pais devem tirá-la da boca da criança, assim que adormecer. E uma boa tática para fazê-la parar de chupar o dedo – o que ocorre com mais freqüência durante o dia – é chamar a atenção para outras atividades, de preferência as que mantenham as mãos ocupadas.
Dentista Responsável pela Odontopediatria: Dra. Ana Lúcia Locatelli Gorin